sábado, 27 de fevereiro de 2010

De volta ao infortúnio da censura

Por Eliton Felipe, professor de História e membro do PSOL Joinville


O som do bumbo, do trombone, do trompete, do trotar dos cavalos serão os únicos sons que poderão ser ouvidos no próximo dia 9 de março, durante o tradicional desfile de aniversário da cidade. Passados quase meio século do início de um período marcado pela repressão onde o sangue de civis banhava os porões da Ditadura e pela censura onde o silêncio era o som mais doloroso que se ouvia, o prefeito de Joinville, Carlito Mers (PT), volta a calar todo e qualquer manifesto contrário as medidas tomadas pelo seu governo nesses quase um ano e meio de mandato.

Estudantes, intelectuais, jornalistas, militantes de esquerda se unem, lembrando àqueles dias de correrias nas ruas, da cavalaria e dos tanques, das receitas de torta nos jornais ou dos encontros clandestinos criando planos para continuar a luta contra os ditadores. Em Joinville, durante muitos anos no mês de março foi assim, reivindicações eram expostas em cartazes e gritos de guerra. Não nesse ano. Dessa vez, esse acontecimento será arbitrariamente proibido.

O joinvillense que sofre com o transporte coletivo de péssima qualidade, pagando caro para ser tratado como lixo compactado, que vive uma eterna luta em busca de um lar, assistirá amordaçado o bloco dos “felizes” imigrantes germânicos.

No Brasil a enganação sempre esteve presente. Os ditadores anteciparam a comemoração de sua “revolução”, pois o fatídico 1º de Abril de 1964 seria cômico de mais até para os mais arrogantes componentes da direita governista. Usurpadores de nossos direitos, outrora tentaram calar até mesmo expoentes de nossa música como Caetano Veloso e Chico Buarque. Muito me intriga saber que alguém que se diz contra esses atos obscenos, que diz ter lutado contra o Terrorismo de Estado que precedeu sua vida política utilize as mesmas armas vulgares e mesquinhas.

O país vivia um período sombrio, quebrado apenas por uma réstia de luz. Um lampejo de esperança surgia com a criação de um partido. Pautado na luta pela liberdade de opinião, o PT teve grande importância na busca da redemocratização do país. Infelizmente não é o que temos visto nos últimos anos. Primeiro, a expulsão da ex-senadora Heloisa Helena, atualmente no PSOL, por discordar da posição do governo Lula. Agora, bem aqui, próximo de nós, a mesma censura, o mesmo cala-boca se faz presente e oportuno. Para o Governo, é melhor que se esconda a oposição, como os militares faziam, evitar o constrangimento de ser colocado a prova e de mostrar o descontentamento com a ineficiência de seus atos.

A censura é uma arma resgatada que faz com que aquela esperança devotada ao Partido dos Trabalhadores no ano de 2008 escorra por entre os dedos. Carlito abandonou a bandeira da luta democrática e agora, se faz presente em nossa cidade, a mesma cara que os Generais possuíam naquele maldito 1º de Abril.

Nenhum comentário: