segunda-feira, 28 de maio de 2012

Deputado catarinense vota contra PEC do Trabalho Escravo




No dia 22 deste mês, a Câmara dos Deputados aprovou a PEC (Projeto de Emenda Constitucional) do Trabalho Escravo, que determina o confisco de propriedades em que forem encontrados trabalhadores submetidos à escravidão e encaminhamento dessas terras para reforma agrária ou uso social.

Dos 415 deputados que votaram, 29 se manifestaram contra a PEC. Destes, 27 são de apenas quatro partidos: PSD, PMDB, DEM e PP. Nesta lista está incluso o deputado catarinense Valdir Colatto, que também foi favorável ao Novo Código Florestal. Colatto integra a Bancada Ruralista da Câmara dos Deputados, grupo que historicamente defende os empresários do setor do agronegócio. 

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Acampando em Cuba ...




Domingo, 22 de maio de 2012. Entramos no espaço aéreo cubano em meio a uma enorme tempestade. Ao meu lado, meu colega de poltrona se agarra aos braços do assento, posso ouvir algumas pessoas rezando em espanhol enquanto o avião passa em meio aos raios e as nuvens negras do temporal. Há muito que não sinto medo de voar. Se a aeronave cair, morro sem sentir nada e, acredito, estou pronto para encarar o ceifador. Se aterrisso, saio vivo, inteiro e continuo a minha vida.
Em solo cubano, tenho o primeiro contato com os cubanos, sem saber que, em breve, seriam cubanos, argentinos, colombianos, chilenos, ingleses, finlandeses... Me aguardava no Aeroporto Internacional de Cuba, José Martí, Letícia, uma cubana que algum tempo depois eu descobriria ser deputada. Legitima representante do povo cubano, muito diferente dos nossos políticos (mais tarde explico o modelo político cubano).
Ainda no aeroporto conheci Javier e Verônica, um casal de argentinos de Córdoba com quem eu passaria os próximos 15 dias construindo uma amizade que durará para sempre. Fomos os três de carro ao acampamento, levados pelo motorista Victor. Um cubano, técnico em automação que trabalha como chofer para o governo.
No caminho pude verificar as primeiras diferenças em relação ao Brasil: asfalto liso, pistas triplicadas. Victor voava com seu possante anos 1980, o que para mim era uma frustração. Afinal de contas, em Cuba não havia apenas carros dos anos 1950?
A ilha parecia estar furiosa com a nossa presença, do céu vinham trovões, relâmpagos e água, muita água. O carro, que eu não conheço o modelo, mas que me lembrava um corcel 2, deslisava pelas ruas e rodovias em alta velocidade. Como brasileiro, seguidor das leis, tentei colocar o cinto de segurança. Não havia um para pôr. O limpador de para-brisa tinha apenas uma velocidade (lenta) o que não impedia Victor de falar ao celular. Decidi me grudar no “putamerda”.
Chegamos ao acampamento na cidade de Caimito, fizemos o pagamento da estadia, deixamos o passaporte no cofre junto com o restante do dinheiro que possuíamos. Foi quando descobri que possuía apenas 30,00 CUC. O equivalente a R$ 60,00 e mais $ 40,00 para voltar ao Brasil.
Fomos recebidos na Piragua, espécie de Buteco do acampamento em forma de octógono, onde podíamos tomar um cafézinho, um morrito, um Cuba Libre, um bucaneiro (cerveja cubana), um rum, um Tukola (coca-cola cubana), comer uma pizza, conseguir cigarros ou simplesmente jogar conversa fora. Ganhamos um copo de suco e nos deram informações que, obviamente, não compreendi nada, pois nessa altura do campeonato, meu espanhol se resumia a “si” e “no” . Verônica e Javier, pacientemente traduziam tudo para mim.
 Uma senhora muito simpática nos levou aos quartos. Era Caruca, uma figura singular e muito amável. Me acomodei no quarto de número 10 do corredor G, com outros cinco companheiros: Nilo e Claudio do Brasil; Estiven de Granada; e dois turcos que seria impossível tentar escrever seus nomes aqui. A comunicação entre nós era em inglês, ou seja, não havia.
O acampamento estava dividido em sete alojamentos com dez quartos cada, com capacidade para até oito pessoas, dependendo do quarto. Havia um salão de conferência com capacidade para umas 350 pessoas, a Piragua (o coração da Brigada), uma sala de imformática (nosso elo com o mundo exterior a Cuba) uma biblioteca, um consultório médico, sala de administração, refeitório, Tienda (loja), viveiro de tartarugas e crocodilo, um palco em uma área de convivência com mesas e cadeiras de ferro e de plástico e outra área de convivência com mesas de concreto, campo de futebol, quadra de basquete e de vólei, banheiros em todos os alojamentos com água fria.
A Brigada era uma enorme torre de babel. Havia 24 países representados por 250 pessoas com suas mais diversas línguas, religiões e culturas. Islâmicos e cristãos convivendo normalmente; argentinos e ingleses discutindo as Malvinas sem brigar... O espanhol e o inglês eram o idioma “oficial”, mas havia também português, coreano, japonês, finlandês, francês, creole, turco...
No acampamento tínhamos três refeições diárias, café da manhã, almoço e janta. A comida era muito parecida com a brasileira. De manhã, café com leite, iogurte e pão com manteiga; meio dia e a noite, arroz, feijão, aipim e carne, geralmente de porco. Além de banana verde amassada ou frita e salada.
Os ingredientes eram os mesmos, mas a forma de prepará-los era muito diferente. Senti falta do tempero brasileiro.
Na delegação brasileira eramos em 37 pessoas das mais diversas regiões do país. Dentre elas, Erico de São Paulo e Lara do Rio Grande do Sul, com que tive a oportunidade e o prazer de passear e me aventurar pelas ruas de Havana.

Prelúdio de meus dias em Cuba....


Vou começar meus relatos sobre Cuba contando como foi a partida para a América Central. Depois escrevo artigos específicos sobre o que vi e fiz na ilha.
20 de abril de 2012 – 15h03 horas: 2 horas antes de partir chega minha tarjeta cubana (visto).
16h: Enquanto arrumo o guarda-roupas do Vinicius, sou tomado por uma terrível aflição, um aperto no coração. Esse deve ser o primeiro momento em que realmente percebo que um sonho antigo está se realizando: conhecer Cuba antes da morte de Fidel e ver os avanços sociais conseguidos pelo governo ante o bloqueio dos Estados Unidos.
Os devaneios são interrompidos pelo som do portão se fechando e a voz do pequeno Vini na porta de casa.
Um último recado no face e vou para o banho. Roupa de viajem, perfume, desodorante, meias, creme no cabelo, itens que vão imediatamente para a mala.
17h: Subo a rua das Camélias pensando que, em poucas horas, estarei embarcando em uma viajem de descobrimentos, repleta de expectativas.
Últimos pertences guardados, incluindo a Matilde e o gatinho, bichos de pelúcia que o Vini me deu para que eu não esquecesse dele enquanto estivesse distante. Cadeado na bolsa, documentos na mochila, tudo pronto. Hora de levar as malas para o carro de pai e mãe que esperam ansiosos no sofá da sala. Primeiro filho a sair do Brasil, primeiro filho com passaporte carimbado.
17h: (21:06 – enquanto escrevo, um senhor passar por mim e diz a seus amigos: Vamos embarcar? Um frio na barriga toma conta de mim, um misto de pavor e ansiedade) Embarcamos todos no carro: Viniciu, Paty e mãe (Alzira) atras; Eu e pai (Elio) na frente. Essa é a primeira vez que tenho a confiança dele para dirigir seu carro em uma rodovia.
Uma viajem tranquila, regada a balas de banana e conversas descontraídas.
 Navegantes, 19h: Estou na fila para despachar as malas acompanhado pelo Vini, ele olha pra mim com os olhinhos brilhando radiantes de alegria e diz: Vamos nós dois, né pai? - A frase parte o meu coração, digo a ele que não, que o papai vai trabalhar e ele sem entender me pergunta por quê, agora com os olhos cheios d'água para em seguida cair em um choro sentido e muito triste.
19h30: Malas despachadas, Vini no colo agarrado ao meu pescoço chorando muito, me pedindo para ir junto. Meu pai aparece com um presentinho em dinheiro, aceito me despeço dele e de minha mãe.
Últimos beijos na primeira dama. 15 dias longe, nunca ficamos tanto tempo separados.
20h30: Uma xícara de café e Drácula de Bram Stoker para ler...
Guarulhos, 1h01: Aeroporto de Guarulhos. O voo foi tranquilo, apenas um pouco de turbulência. Agora esperar até as 06:00 para despachar as malas para Cuba.
Sentados a minha frente um grupo de surfistas com suas pranchas, algumas pessoas dormindo, outras acordando, um casal de irmãos brincam com seus iPads. Vou ler um pouco.
Lima, 12h17: Acabei de chegar no Peru e, antes de atingir meu objetivo final, posso dizer que já valeu a pena. Ao cruzarmos o Brasil, pude perceber o estrago que estamos fazendo em nossas florestas. Áreas imensas desmatadas para a produção agrícola e/ou pecuária com partes do território em processo de desertificação visível.
Devo ter adormecido por um bom tempo, perdi a noção das horas e quando olhei para fora, neve! Tão próxima que parecia que se eu esticasse as mãos poderia tocá-la. Ali estava a Cordilheira dos Andes, linda, imponente, espetacular e assustadora ao mesmo tempo. Foi uma das cenas mais lindas que já vi. Quando o poeta Manuel de Barros disse que “aquele morro bem que entorta a bunda da paisagem” ele não estava errado. O contorno das montanhas é como uma linda mulher a qual é impossível não parar tudo o que se está fazendo apenas para olhá-la, impossível não se impressionar com sua visão encantadora. É como o aroma de um perfume raro, que nos deixa inebriados e felizes.
As nuvens cobrindo tudo, apenas uma ponta de terra, rochas e neve. De tempos em tempos, podia-se ver a importância da Cordilheira. Lá embaixo, rios caudalosos correm em meio ao terreno seco, graças ao gelo das montanhas que derretem e alimentam grandes mananciais como o Amazonas que nasce nas montanhas e morre 150 km mar adentro no oceano Atlântico.
Chegando em Lima, uma das capitais menos chuvosas do planeta, é possível identificar a diferença no clima. Banhada pelas águas verde esmeralda do Pacífico, possui uma espeça nuvem de poeira cobrindo o céu.
No avião, ao meu lado o mesmo senhor com quem vim do Brasil. É do sindicato dos bancários de São Paulo e está indo a Cuba fazer um curso sobre sindicalismo.
Tarde do dia 21 de abril em algum lugar sobre a América do Sul, tomando vinho chileno, ouvindo música clássica e a caminho de Havana, acho que estou no céu. Ops! Estou mesmo!

Professor de história participa de uma brigada e passa 15 dias em Cuba

Há décadas, o bloqueio ecônomico imposto à Cuba vem sendo uma barreira ao desenvolvimento do páis, influenciando diretamente na vida de milhares de pessoas. Essa situação chama a atenção de pessoas do mundo inteiro, que se solidarizam com a causa e, por meio de brigadas, tentam dar sua contribuição aos cubanos. Entre essas pessoas está o professor de história Eliton Felipe de Souza, que, no mês de abril, passou 15 dias em Cuba. Hoje e nos próximos dias, vamos compartilhar seus textos publicados no blog pessoal "Tudo que morre fica vivo na lembrança", onde ele relata a experiência vivida na Ilha. Confira os dois primeiros textos.

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Procuradoria Geral da República dá parecer favorável a ação do PSOL que determina regulamentação da mídia


Em novembro de 2010, a partir de ação elaborada pelo professor Fábio Konder Comparato, o PSOL (Partido Socialismo e Liberdade) ingressou no Supremo Tribunal Federal com uma Ação de Insconstitucionalidade por Omissão (ADO), visando a regulamentação de artigos da Constituição Federal relativos à Comunicação. Entre eles, o artigo 220, que proíbe o monopólio e o oligopólio nas comunicações e que diz que cabe ao Estado estabelecer os meios legais para garantir a defesa de programas ou propagandas nocivas à saúde e ao meio ambiente; o artigo 221, que define as finalidades da programação de rádio e TV; e o artigo 5o, em sua previsão sobre o direito de resposta. Segundo a ação, mais de 20 anos depois da promulgação da Constituição, o fato de o Congresso ainda não ter cumprido seu dever de regulamentar estes artigos resultaria em prejuízos consideráveis para a democracia brasileira.

No final de abril, a Procuradoria Geral da República finalmente emitiu seu parecer sobre o caso. Num texto assinado pela vice-Procuradora Geral da República, Deborah Duprat, e aprovado pelo Procurador Geral Roberto Gurgel, o órgão máximo do Ministério Público se pronunciou favoravelmente à ação. A PGR entende que há a necessidade de disciplina legal da vedação ao monopólio e oligopólio dos meios de comunicação, assim como uma atuação promocional do Estado na democratização dos meios de comunicação – em referência às finalidades da programação de rádio e TV previstas no artigo 221.

O parecer também  acredita que há demora excessiva do Congresso Nacional na disciplina do direito de resposta, sem regulação específica desde que o STF declarou revogada a Lei de Imprensa. E conclui admitindo a possibilidade de o Judiciário estabelecer um prazo para que as leis que regulamentam esses as artigos da Constituição sejam finalmente aprovadas.

Antes da Procuradoria Geral da República, tanto o Congresso Nacional quanto a Advocacia Geral da União (AGU) já haviam emitido suas opiniões sobre a ADO. Em seus pareceres, por diferentes razões, manifestaram ao Supremo desacordo com a ação.  O presidente do Senado, José Sarney (PMDB/AP), por exemplo, disse que não há omissão inconstitucional do Congresso na efetivação do que determina a Constituição para os meios de comunicação. O presidente da Câmara dos Deputados, Marco Maia (PT/RS), alegou que já existem projetos de lei em tramitação tratando dos artigos constitucionais em questão.

Já a AGU, que representa o governo federal junto ao Judiciário, disse, por um lado, que  o direito de resposta e a proibição de monopólio e oligopólio não dependem de regulamentação, já que a Constituição lhes garantiria “eficácia plena e aplicabilidade imediata”. Por outro lado, em relação aos artigos 220 e 221, a AGU acredita que leis como o Estatuto da Criança e do Adolescente, o Código de Defesa do Consumidor e a lei do V-Chip, mecanismo que permite o bloqueio de canais nos aparelhos de TV, já seriam suficientes. Assim como o Conselho de Comunicação Social (CCS), órgão auxiliar do Congresso que teria a função de se pronunciar sobre assuntos da comunicação em tramitação no Parlamento brasileiro. A AGU não considerou, no entanto, que o CCS está sem funcionar desde 2006, quando venceram os mandatos de seus membros e a mesa diretora do Senado não nomeou novos integrantes.

Regulação e democracia

Antes de analisar ponto a ponto os pedidos descritos na ADO número 10, a vice-Procuradora Geral da República, Deborah Duprat, explicitou a posição do Ministério Público Federal acerca do próprio debate público sobre a regulação dos meios de comunicação.

“A cada tentativa de discussão sobre o tema, imediatamente os grandes veículos de comunicação se levantam para tachá-las de “censura”, invocando um discurso de que se trataria de restrição a um direito fundamental absoluto”, disse, no parecer. “O princípio da liberdade de expressão é um dos mais importantes direitos fundamentais do sistema constitucional brasileiro. (…) Portanto, deve ser garantida pelo poder público a possibilidade de livre manifestação de qualquer cidadão, para que se desenvolva um debate ancorado em razões públicas sobre temas de interesse da sociedade. Desse modo, posturas como a da grande mídia na verdade caracterizam uma tentativa de se evitar o debate, o que representa uma grave violação à liberdade de expressão. Nesses casos, o efeito silenciador vem do próprio discurso”, acrescentou.

Deborah Duprat destacou o fato de marcos regulatórios dos meios de comunicação serem comuns em praticamente todos os países europeus e também em nações de tradição político-cultural liberal, como os EUA. Ela lembrou da Federal Communications Comission (FCC), o órgão regulador federal norte-americano responsável pela adoção de medidas administrativas voltadas à disciplina do funcionamento do setor. E defendeu a recente experiência da Argentina como uma forma de promoção da liberdade de expressão do conjunto da população do país.

“Buscando delimitar os parâmetros de uma concepção democrática dos meios de comunicação social, o parlamento argentino aprovou, em outubro de 2009, a Lei 26522, denominada Ley de Servicios de Comunicación Audiovisual, que disciplina temas como a propriedade dos meios de comunicação e a vedação às práticas de monopólio e oligopólio.

Ao invés de serem vistas como antidemocráticas e restritivas de direitos fundamentais, as medidas de regulação estatal são consideradas como uma forma de expansão da liberdade de expressão e de pluralização do conhecimento”, explicou.

Na avaliação da PGR, o poder público tem não apenas o dever de se abster de violar o direito à liberdade de expressão mas também a obrigação de promovê-lo concretamente e de garanti-lo diante de ameaças decorrentes da ação de grupos privados.

“Revela-se legítima a intervenção do Estado na estruturação e no funcionamento do mercado. Principalmente quando se trata de coibir os excessos da concentração de poderes em determinados grupos econômicos, de modo a se garantir a diversidade de pontos de vista e a prevalência da autonomia individual na livre formação da convicção de cada um”, afirma o parecer.

Neste sentido, o parecer do Ministério Público discorda da visão da AGU, para quem a norma prevista no artigo 220 tem eficácia plena. Na leitura do MP, a realidade tem mostrado que a proibição constitucional a monopólios e oligopólios na comunicação não tem sido suficiente para evitar sua formação. A Procuradoria Geral da República acredita que os níveis da concentração da mídia no país são “escandalosos”, e que “a pressão dos interessados na manutenção do atual status quo (…) tem inviabilizado a regulamentação e aplicação da vedação constitucional ao monopólio e oligopólio na mídia”.

O próprio STF já se manifestou sobre o tema, quando julgou a ação que culminou no fim da Lei de Imprensa. Na leitura dos ministros do Supremo Tribunal Federal, a proibição do monopólio e do oligopólio deve ser vista como um “novo e autônomo fator de contenção de abusos do chamado poder social da imprensa”.

A interpretação vai ao encontro da Declaração de Princípios sobre Liberdade de Expressão da Relatoria para a Liberdade de Expressão da Comissão Interamericana de Direitos Humanos, também citada por Deborah Duprat. O texto afirma que “os monopólios ou oligopólios na propriedade e controle dos meios de comunicação devem estar sujeitos a leis anti-monopólio, uma vez que conspiram contra a democracia ao restringirem a pluralidade e a diversidade que asseguram o pleno exercício do direito dos cidadãos à informação”.

Direito de resposta e conteúdo da programação televisiva

Seguindo a mesma lógica, a Procuradoria Geral da República também vê necessidade de regulamentação específica para a garantia da efetividade do direito de resposta, sobretudo porque, sem lei ordinária tratando do tema, apenas o aspecto da reparação de danos à personalidade seria possível, a partir do Código Civil.

“Pode-se considerar que o direito de resposta tem sido concebido no Brasil em termos estritamente privatísticos. Afinal, existe regulamentação infraconstitucional quanto á reparação de danos à personalidade (honra, imagem etc) no Código Civil e na legislação especial. Porém, não há o mesmo tipo de disciplina legal no âmbito da comunicação social, para que assegurem os espaços e as condições para manifestações midiáticas daqueles que, porventura, tenham seus direitos desrespeitados através deste meio”, explica Deborah Duprat.

Neste sentido, para o MP, o direito de resposta funciona não apenas como um meio de proteção de direitos da personalidade, mas também deve ser visto como um instrumento de garantia do acesso à informação e do pluralismo interno dos meios de comunicação, essenciais para a garantia do direito difuso à liberdade de expressão.

Já sobre a determinação da Constituição de que o Estado brasileiro estabeleça os meios legais para que os cidadãos se defendam de programas ou propagandas abusivas, Deborah Duprat também foi enfática ao afirmar a insuficiência dos mecanismos disponíveis à população brasileira.

“Não merece prosperar a alegação da AGU de que a existência de previsão legal, por exemplo no ECA e no Código de Defesa do Consumidor, descaracterizaria a omissão do Congresso Nacional. O fato de haver disposições pontuais e esparsas na legislação infraconstitucional a respeito de determinado tema constitucional não é suficiente para afastar a abstenção do legislador em regulamentá-lo”, disse. “As normas legais mencionadas se referem a aspectos específicos da sua projeção no âmbito de relações jurídicas casuísticas (direito de família e relações de consumo). Portanto, tem-se uma omissão ao menos parcial, na medida em que o legislador persiste sem disciplinar, de modo abrangente e referencial, as formas de garantia do interesse público nos meios de comunicação”, concluiu.

Inércia legislativa

O parecer da PGR termina respondendo indiretamente às manifestações do Congresso Nacional no que diz respeito à existência de projetos de lei que tratam dos temas abordados na ADO 10 do professor Comparato. Para as Casas legislativas – Câmara e Senado – a mera existência desses projetos impede que o Supremo considere o Congresso omisso na regulamentação da Constituição. Para o MP, no entanto, é possível que exista uma situação de inércia do Poder Legislativo, que faça com que os processos de tramitação se arrastem por anos e anos. Nesses casos, o resultado é o mesmo da inexistência de qualquer projeto de lei.

“Mostra-se viável e necessário um juízo de razoabilidade acerca do período de elaboração das normas legais, considerando-se a natureza da matéria e a urgência da sua disciplina perante os anseios da sociedade”, disse Deborah Duprat. “Dado o entendimento recente da Suprema Corte brasileira em relação às omissões inconstitucionais, é cabível o estabelecimento de prazo razoável (…) para que o Congresso Nacional proponha s leis cabíveis”. Este prazo, na avaliação da PGR, seria de 18 meses.

O jurista Fábio Konder Comparato comemorou a posição do Ministério Público. Para o presidente nacional do PSOL, deputado federal Ivan Valente, o parecer contribui significativamente para o fortalecimento da luta dos movimentos sociais pela regulamentação da comunicação no país.

“O resultado de décadas de ausência de regras eficazes no campo da mídia deixou o mercado capitalista à vontade para concentrar tamanho poder nas mãos de poucas famílias e para usar as concessões de rádio e televisão para o benefício de interesses privados, meramente comerciais , com enorme prejuízo para a diversidade cultural em nosso país. Diante deste quadro, garantir a circulação de uma pluralidade de vozes, visões e opiniões no espaço midiático é fundamental para quebrar uma estrutura que hoje está a serviço das elites políticas e econômicas e avançarmos na consolidação da democracia no Brasil”, concluiu Ivan Valente.

Para contribuir com o processo, o Intervozes entrou com um pedido de amicus curiae junto ao Supremo Tribunal Federal, e aguarda decisão da ministra Rosa Weber sobre a solicitação.

terça-feira, 15 de maio de 2012

RIC divulga nova pesquisa e expectativa no PSOL é crescer

Faltando cerca de cinco meses para as eleições municipais, a RIC divulgou mais uma pesquisa de intenção de voto em Joinville. Em todos os três cenários cogitados, o deputado federal Marco Tebaldi mantém a liderança, seguido de perto por Darci de Matos, Kennedy Nunes, Udo Döhler e Carlito Merss. No entanto, o tucano, assim como a maioria dos candidatos, apresentou queda em relação à pesquisa de março deste ano.

Com isso, o maior destaque desta pesquisa pode ser considerado o alto índice de indecisos e votos nulos, que dobraram nos três cenários. Os que não sabem ainda em quem votar variam entre 24% e 27%, crescendo em relação à pesquisa anterior.

O pré-candidato do PSOL, Leonel Camasão, foi citado por menos de 1% dos 602 entrevistados, o que, segundo ele, ficou dentro do esperado. O socialista acredita que a porcentagem de indecisos pode garantir ao PSOL uma maior pontuação no futuro. “Nosso bloco ainda não está na rua.”, comenta Camasão.

Leonel Camasão será o entrevistado do programa Breakfast nesta quarta

O pré-candidato do PSOL à prefeitura de Joinville, Leonel Camasão, será o entrevistado desta quarta-feira no programa Breakfast, da rádio Cultura AM. O programa, comandado pelo comunicador Osny Martins e pelo jornalista Jeferson Correa tem início às 7 horas da manhã. 

A entrevista será ao vivo, e deverá falar sobre as eleições 2012, as propostas do PSOL para Joinville, entre outros temas. Você pode ouvir o programa pela rádio, sintonizando na 1250 AM, ou pela internet, através do site http://www.amcultura.com.br

Entrevista de Marcelo Freixo ao Roda Viva na íntegra

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Câmara discrimina PSOL e proíbe partido de usar o Plenarinho para reunião


A Câmara de Vereadores de Joinville se negou a ceder ao PSOL o espaço do Plenarinho da casa para a realização de uma reunião do partido. O argumento da Câmara é de que seria proíbido aos partidos a realização de eventos de caráter eleitoral em ano de eleições dentro da Câmara de Vereadores. Estranhamente, seis dias antes de negar o espaço ao PSOL, o PDT realizava sua convenção na Câmara e elegia seu pré-candidato a prefeito sem nenhum impedimento. 

Em ofício datado do dia 16 de abril e enviado ao presidente da Câmara, Odir Nunes (PSD), o PSOL requisitou a utilização do espaço para uma plenária sobre eleições 2012. Nove dias depois, por telefone uma funcionária da casa retornou e afirmou que não seria permitido a utilização do espaço.

Legislação permite o uso

O presidente do PSOL Joinville, Leonel Camasão, estranhou a negativa da Câmara, ainda mais quando o uso deste tipo de espaço público é previsto em lei. 

O artigo 51 da Lei Geral dos Partidos Políticos prevê que todos os partidos podem solicitar espaços nas escolas públicas ou em casas legislativas para realização de reuniões, eventos e convenções. 

"É de se estranhar que a Câmara se utilize de dois pesos e duas medidas para ceder o espaço da casa aos partidos. Para o PDT, pode. Para o PSOL, não pode", afirma o presidente da sigla, Leonel Camasão. 

"Este tipo de prática pode parecer algo pequeno, mas na verdade é uma atitude, discriminatória, anti-republicana. Um verdadeiro atendado a democracia", argumenta. 

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Carlito e Tebaldi são multados pela Justiça Eleitoral

Do mesmo saco: Tebaldi e Carlito condenados por propaganda irregular
O prefeito Carlito Merss (PT) e o deputado federal Marco Tebaldi (PSDB) foram condenados a pagar multas por prática de propaganda eleitoral antecipada. Os dois são pré-candidatos nas eleições de outubro, e, no entendimento da Justiça Eleitoral, não seguiram as regras que proíbem campanha antes do tempo.

No caso de Carlito, a ação foi realizada pelo PSDB, denunciando irregularidades em encartes e outdoors com propaganda de realizações da Prefeitura de Joinville. Expressões como "compromisso cumprido" e "vem mais por aí" foram suficientes para caracterizar a propaganda antecipada. Carlito deverá pagar R$ 25 mil em multa.

Tebaldi, por sua vez, levou multa de R$ 10 mil por conta de adesivos que foram espalhados pela cidade com os dizeres "Volta Tebaldi". O presidente do Conselho Municipal de Associações de Moradores (Comam), Jairo de Almeida, também foi condenado ao pagamento de R$ 5 mil, por ter encomanedado os adesivos. Ele é filiado ao PSDB.

Tebaldi ainda responde por uma representação protocolada pelo PSOL, denunciando também a propaganda por meio de outdoors, da qual não houve decisão até o momento. Na ação, o PSDB e o Comam também são representandos por praticarem atos irregulares.

terça-feira, 1 de maio de 2012

Relator do projeto do Código Florestal tem ligações com grandes produtores rurais

O senador Luiz Henrique da Silveira e os deputados catarinenses que votaram a favor do Novo Código Florestal não estão sozinhos na luta pela defesa dos interesses dos empresários do agronegócio. O relator do projeto na Câmara, o deputado Paulo Piau, foi um grande reforço, já que quase a metade – R$ 990 mil - dos mais dos mais de R$ 2 milhões que ele recebeu de doação na última campanha saíram dos cofres de grandes produtores rurais.


O deputado Chico Alencar, líder do PSOL na Câmara, apresentou esses números – tirados da lista de doadores disponíveis no site do TSE – e pediu a destituição de Piau do cargo de relator as vésperas da votação do novo Código Florestal, mas foi em vão, o deputado permaneceu e o projeto foi aprovado com uma série de elementos prejudiciais ao meio ambiente.

Como argumento pela destituição, Alencar utilizou o código de ética da casa, que, em um de seus artigos, afirma ser quebra de decoro parlamentar “relatar matéria de interesse específico de pessoa física ou jurídica que tenha contribuído para o financiamento de sua campanha eleitoral". Com isso, fica clara a violação de um dos princípios do código de ética e a quebra de decoro parlamentar por parte do relator do projeto, que ignorou o fato e seguiu seus trabalhos.