Domingo, 22 de maio de 2012. Entramos no espaço aéreo cubano
em meio a uma enorme tempestade. Ao meu lado, meu colega de poltrona se agarra
aos braços do assento, posso ouvir algumas pessoas rezando em espanhol enquanto
o avião passa em meio aos raios e as nuvens negras do temporal. Há muito que
não sinto medo de voar. Se a aeronave cair, morro sem sentir nada e, acredito,
estou pronto para encarar o ceifador. Se aterrisso, saio vivo, inteiro e
continuo a minha vida.
Em solo cubano, tenho o primeiro contato com os cubanos, sem
saber que, em breve, seriam cubanos, argentinos, colombianos, chilenos,
ingleses, finlandeses... Me aguardava no Aeroporto Internacional de Cuba, José
Martí, Letícia, uma cubana que algum tempo depois eu descobriria ser deputada.
Legitima representante do povo cubano, muito diferente dos nossos políticos
(mais tarde explico o modelo político cubano).
Ainda no aeroporto conheci Javier e Verônica, um casal de
argentinos de Córdoba com quem eu passaria os próximos 15 dias construindo uma
amizade que durará para sempre. Fomos os três de carro ao acampamento, levados
pelo motorista Victor. Um cubano, técnico em automação que trabalha como chofer
para o governo.
No caminho pude verificar as primeiras diferenças em relação
ao Brasil: asfalto liso, pistas triplicadas. Victor voava com seu possante anos
1980, o que para mim era uma frustração. Afinal de contas, em Cuba não havia
apenas carros dos anos 1950?
A ilha parecia estar furiosa com a nossa presença, do céu
vinham trovões, relâmpagos e água, muita água. O carro, que eu não conheço o
modelo, mas que me lembrava um corcel 2, deslisava pelas ruas e rodovias em
alta velocidade. Como brasileiro, seguidor das leis, tentei colocar o cinto de
segurança. Não havia um para pôr. O limpador de para-brisa tinha apenas uma
velocidade (lenta) o que não impedia Victor de falar ao celular. Decidi me
grudar no “putamerda”.
Chegamos ao acampamento na cidade de Caimito, fizemos o
pagamento da estadia, deixamos o passaporte no cofre junto com o restante do
dinheiro que possuíamos. Foi quando descobri que possuía apenas 30,00 CUC. O
equivalente a R$ 60,00 e mais $ 40,00 para voltar ao Brasil.
Fomos recebidos na Piragua, espécie de Buteco do acampamento
em forma de octógono, onde podíamos tomar um cafézinho, um morrito, um Cuba
Libre, um bucaneiro (cerveja cubana), um rum, um Tukola (coca-cola cubana),
comer uma pizza, conseguir cigarros ou simplesmente jogar conversa fora.
Ganhamos um copo de suco e nos deram informações que, obviamente, não
compreendi nada, pois nessa altura do campeonato, meu espanhol se resumia a
“si” e “no” . Verônica e Javier, pacientemente traduziam tudo para mim.
O acampamento estava dividido em sete alojamentos com dez
quartos cada, com capacidade para até oito pessoas, dependendo do quarto. Havia
um salão de conferência com capacidade para umas 350 pessoas, a Piragua (o
coração da Brigada), uma sala de imformática (nosso elo com o mundo exterior a
Cuba) uma biblioteca, um consultório médico, sala de administração, refeitório,
Tienda (loja), viveiro de tartarugas e crocodilo, um palco em uma área de
convivência com mesas e cadeiras de ferro e de plástico e outra área de
convivência com mesas de concreto, campo de futebol, quadra de basquete e de
vólei, banheiros em todos os alojamentos com água fria.
A Brigada era uma enorme torre de babel. Havia 24 países
representados por 250 pessoas com suas mais diversas línguas, religiões e
culturas. Islâmicos e cristãos convivendo normalmente; argentinos e ingleses
discutindo as Malvinas sem brigar... O espanhol e o inglês eram o idioma
“oficial”, mas havia também português, coreano, japonês, finlandês, francês,
creole, turco...
No acampamento tínhamos três refeições diárias, café da
manhã, almoço e janta. A comida era muito parecida com a brasileira. De manhã,
café com leite, iogurte e pão com manteiga; meio dia e a noite, arroz, feijão,
aipim e carne, geralmente de porco. Além de banana verde amassada ou frita e
salada.
Os ingredientes eram os mesmos, mas a forma de prepará-los
era muito diferente. Senti falta do tempero brasileiro.
Na delegação brasileira eramos em 37 pessoas das mais
diversas regiões do país. Dentre elas, Erico de São Paulo e Lara do Rio Grande
do Sul, com que tive a oportunidade e o prazer de passear e me aventurar pelas
ruas de Havana.
Nenhum comentário:
Postar um comentário