quinta-feira, 24 de maio de 2012

Acampando em Cuba ...




Domingo, 22 de maio de 2012. Entramos no espaço aéreo cubano em meio a uma enorme tempestade. Ao meu lado, meu colega de poltrona se agarra aos braços do assento, posso ouvir algumas pessoas rezando em espanhol enquanto o avião passa em meio aos raios e as nuvens negras do temporal. Há muito que não sinto medo de voar. Se a aeronave cair, morro sem sentir nada e, acredito, estou pronto para encarar o ceifador. Se aterrisso, saio vivo, inteiro e continuo a minha vida.
Em solo cubano, tenho o primeiro contato com os cubanos, sem saber que, em breve, seriam cubanos, argentinos, colombianos, chilenos, ingleses, finlandeses... Me aguardava no Aeroporto Internacional de Cuba, José Martí, Letícia, uma cubana que algum tempo depois eu descobriria ser deputada. Legitima representante do povo cubano, muito diferente dos nossos políticos (mais tarde explico o modelo político cubano).
Ainda no aeroporto conheci Javier e Verônica, um casal de argentinos de Córdoba com quem eu passaria os próximos 15 dias construindo uma amizade que durará para sempre. Fomos os três de carro ao acampamento, levados pelo motorista Victor. Um cubano, técnico em automação que trabalha como chofer para o governo.
No caminho pude verificar as primeiras diferenças em relação ao Brasil: asfalto liso, pistas triplicadas. Victor voava com seu possante anos 1980, o que para mim era uma frustração. Afinal de contas, em Cuba não havia apenas carros dos anos 1950?
A ilha parecia estar furiosa com a nossa presença, do céu vinham trovões, relâmpagos e água, muita água. O carro, que eu não conheço o modelo, mas que me lembrava um corcel 2, deslisava pelas ruas e rodovias em alta velocidade. Como brasileiro, seguidor das leis, tentei colocar o cinto de segurança. Não havia um para pôr. O limpador de para-brisa tinha apenas uma velocidade (lenta) o que não impedia Victor de falar ao celular. Decidi me grudar no “putamerda”.
Chegamos ao acampamento na cidade de Caimito, fizemos o pagamento da estadia, deixamos o passaporte no cofre junto com o restante do dinheiro que possuíamos. Foi quando descobri que possuía apenas 30,00 CUC. O equivalente a R$ 60,00 e mais $ 40,00 para voltar ao Brasil.
Fomos recebidos na Piragua, espécie de Buteco do acampamento em forma de octógono, onde podíamos tomar um cafézinho, um morrito, um Cuba Libre, um bucaneiro (cerveja cubana), um rum, um Tukola (coca-cola cubana), comer uma pizza, conseguir cigarros ou simplesmente jogar conversa fora. Ganhamos um copo de suco e nos deram informações que, obviamente, não compreendi nada, pois nessa altura do campeonato, meu espanhol se resumia a “si” e “no” . Verônica e Javier, pacientemente traduziam tudo para mim.
 Uma senhora muito simpática nos levou aos quartos. Era Caruca, uma figura singular e muito amável. Me acomodei no quarto de número 10 do corredor G, com outros cinco companheiros: Nilo e Claudio do Brasil; Estiven de Granada; e dois turcos que seria impossível tentar escrever seus nomes aqui. A comunicação entre nós era em inglês, ou seja, não havia.
O acampamento estava dividido em sete alojamentos com dez quartos cada, com capacidade para até oito pessoas, dependendo do quarto. Havia um salão de conferência com capacidade para umas 350 pessoas, a Piragua (o coração da Brigada), uma sala de imformática (nosso elo com o mundo exterior a Cuba) uma biblioteca, um consultório médico, sala de administração, refeitório, Tienda (loja), viveiro de tartarugas e crocodilo, um palco em uma área de convivência com mesas e cadeiras de ferro e de plástico e outra área de convivência com mesas de concreto, campo de futebol, quadra de basquete e de vólei, banheiros em todos os alojamentos com água fria.
A Brigada era uma enorme torre de babel. Havia 24 países representados por 250 pessoas com suas mais diversas línguas, religiões e culturas. Islâmicos e cristãos convivendo normalmente; argentinos e ingleses discutindo as Malvinas sem brigar... O espanhol e o inglês eram o idioma “oficial”, mas havia também português, coreano, japonês, finlandês, francês, creole, turco...
No acampamento tínhamos três refeições diárias, café da manhã, almoço e janta. A comida era muito parecida com a brasileira. De manhã, café com leite, iogurte e pão com manteiga; meio dia e a noite, arroz, feijão, aipim e carne, geralmente de porco. Além de banana verde amassada ou frita e salada.
Os ingredientes eram os mesmos, mas a forma de prepará-los era muito diferente. Senti falta do tempero brasileiro.
Na delegação brasileira eramos em 37 pessoas das mais diversas regiões do país. Dentre elas, Erico de São Paulo e Lara do Rio Grande do Sul, com que tive a oportunidade e o prazer de passear e me aventurar pelas ruas de Havana.

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