quinta-feira, 24 de maio de 2012

Prelúdio de meus dias em Cuba....


Vou começar meus relatos sobre Cuba contando como foi a partida para a América Central. Depois escrevo artigos específicos sobre o que vi e fiz na ilha.
20 de abril de 2012 – 15h03 horas: 2 horas antes de partir chega minha tarjeta cubana (visto).
16h: Enquanto arrumo o guarda-roupas do Vinicius, sou tomado por uma terrível aflição, um aperto no coração. Esse deve ser o primeiro momento em que realmente percebo que um sonho antigo está se realizando: conhecer Cuba antes da morte de Fidel e ver os avanços sociais conseguidos pelo governo ante o bloqueio dos Estados Unidos.
Os devaneios são interrompidos pelo som do portão se fechando e a voz do pequeno Vini na porta de casa.
Um último recado no face e vou para o banho. Roupa de viajem, perfume, desodorante, meias, creme no cabelo, itens que vão imediatamente para a mala.
17h: Subo a rua das Camélias pensando que, em poucas horas, estarei embarcando em uma viajem de descobrimentos, repleta de expectativas.
Últimos pertences guardados, incluindo a Matilde e o gatinho, bichos de pelúcia que o Vini me deu para que eu não esquecesse dele enquanto estivesse distante. Cadeado na bolsa, documentos na mochila, tudo pronto. Hora de levar as malas para o carro de pai e mãe que esperam ansiosos no sofá da sala. Primeiro filho a sair do Brasil, primeiro filho com passaporte carimbado.
17h: (21:06 – enquanto escrevo, um senhor passar por mim e diz a seus amigos: Vamos embarcar? Um frio na barriga toma conta de mim, um misto de pavor e ansiedade) Embarcamos todos no carro: Viniciu, Paty e mãe (Alzira) atras; Eu e pai (Elio) na frente. Essa é a primeira vez que tenho a confiança dele para dirigir seu carro em uma rodovia.
Uma viajem tranquila, regada a balas de banana e conversas descontraídas.
 Navegantes, 19h: Estou na fila para despachar as malas acompanhado pelo Vini, ele olha pra mim com os olhinhos brilhando radiantes de alegria e diz: Vamos nós dois, né pai? - A frase parte o meu coração, digo a ele que não, que o papai vai trabalhar e ele sem entender me pergunta por quê, agora com os olhos cheios d'água para em seguida cair em um choro sentido e muito triste.
19h30: Malas despachadas, Vini no colo agarrado ao meu pescoço chorando muito, me pedindo para ir junto. Meu pai aparece com um presentinho em dinheiro, aceito me despeço dele e de minha mãe.
Últimos beijos na primeira dama. 15 dias longe, nunca ficamos tanto tempo separados.
20h30: Uma xícara de café e Drácula de Bram Stoker para ler...
Guarulhos, 1h01: Aeroporto de Guarulhos. O voo foi tranquilo, apenas um pouco de turbulência. Agora esperar até as 06:00 para despachar as malas para Cuba.
Sentados a minha frente um grupo de surfistas com suas pranchas, algumas pessoas dormindo, outras acordando, um casal de irmãos brincam com seus iPads. Vou ler um pouco.
Lima, 12h17: Acabei de chegar no Peru e, antes de atingir meu objetivo final, posso dizer que já valeu a pena. Ao cruzarmos o Brasil, pude perceber o estrago que estamos fazendo em nossas florestas. Áreas imensas desmatadas para a produção agrícola e/ou pecuária com partes do território em processo de desertificação visível.
Devo ter adormecido por um bom tempo, perdi a noção das horas e quando olhei para fora, neve! Tão próxima que parecia que se eu esticasse as mãos poderia tocá-la. Ali estava a Cordilheira dos Andes, linda, imponente, espetacular e assustadora ao mesmo tempo. Foi uma das cenas mais lindas que já vi. Quando o poeta Manuel de Barros disse que “aquele morro bem que entorta a bunda da paisagem” ele não estava errado. O contorno das montanhas é como uma linda mulher a qual é impossível não parar tudo o que se está fazendo apenas para olhá-la, impossível não se impressionar com sua visão encantadora. É como o aroma de um perfume raro, que nos deixa inebriados e felizes.
As nuvens cobrindo tudo, apenas uma ponta de terra, rochas e neve. De tempos em tempos, podia-se ver a importância da Cordilheira. Lá embaixo, rios caudalosos correm em meio ao terreno seco, graças ao gelo das montanhas que derretem e alimentam grandes mananciais como o Amazonas que nasce nas montanhas e morre 150 km mar adentro no oceano Atlântico.
Chegando em Lima, uma das capitais menos chuvosas do planeta, é possível identificar a diferença no clima. Banhada pelas águas verde esmeralda do Pacífico, possui uma espeça nuvem de poeira cobrindo o céu.
No avião, ao meu lado o mesmo senhor com quem vim do Brasil. É do sindicato dos bancários de São Paulo e está indo a Cuba fazer um curso sobre sindicalismo.
Tarde do dia 21 de abril em algum lugar sobre a América do Sul, tomando vinho chileno, ouvindo música clássica e a caminho de Havana, acho que estou no céu. Ops! Estou mesmo!

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