Vou começar meus relatos sobre Cuba contando como foi a
partida para a América Central. Depois escrevo artigos específicos sobre o que
vi e fiz na ilha.
20 de abril de 2012
– 15h03 horas: 2 horas antes de partir chega minha tarjeta cubana (visto).
16h: Enquanto arrumo o guarda-roupas do Vinicius, sou tomado
por uma terrível aflição, um aperto no coração. Esse deve ser o primeiro
momento em que realmente percebo que um sonho antigo está se realizando:
conhecer Cuba antes da morte de Fidel e ver os avanços sociais conseguidos pelo
governo ante o bloqueio dos Estados Unidos.
Os devaneios são interrompidos pelo som do portão se
fechando e a voz do pequeno Vini na porta de casa.
Um último recado no face e vou para o banho. Roupa de
viajem, perfume, desodorante, meias, creme no cabelo, itens que vão
imediatamente para a mala.
17h: Subo a rua das Camélias pensando que, em poucas horas,
estarei embarcando em uma viajem de descobrimentos, repleta de expectativas.
Últimos pertences guardados, incluindo a Matilde e o
gatinho, bichos de pelúcia que o Vini me deu para que eu não esquecesse dele
enquanto estivesse distante. Cadeado na bolsa, documentos na mochila, tudo
pronto. Hora de levar as malas para o carro de pai e mãe que esperam ansiosos
no sofá da sala. Primeiro filho a sair do Brasil, primeiro filho com passaporte
carimbado.
17h: (21:06 – enquanto escrevo, um senhor passar por mim e
diz a seus amigos: Vamos embarcar? Um frio na barriga toma conta de mim, um
misto de pavor e ansiedade) Embarcamos todos no carro: Viniciu, Paty e mãe
(Alzira) atras; Eu e pai (Elio) na frente. Essa é a primeira vez que tenho a
confiança dele para dirigir seu carro em uma rodovia.
Uma viajem tranquila, regada a balas de banana e conversas
descontraídas.
Navegantes, 19h:
Estou na fila para despachar as malas acompanhado pelo Vini, ele olha pra mim
com os olhinhos brilhando radiantes de alegria e diz: Vamos nós dois, né pai? -
A frase parte o meu coração, digo a ele que não, que o papai vai trabalhar e
ele sem entender me pergunta por quê, agora com os olhos cheios d'água para em
seguida cair em um choro sentido e muito triste.
19h30: Malas despachadas, Vini no colo agarrado ao meu
pescoço chorando muito, me pedindo para ir junto. Meu pai aparece com um
presentinho em dinheiro, aceito me despeço dele e de minha mãe.
Últimos beijos na primeira dama. 15 dias longe, nunca
ficamos tanto tempo separados.
20h30: Uma xícara de café e Drácula de Bram Stoker para
ler...
Guarulhos, 1h01: Aeroporto de Guarulhos. O voo foi
tranquilo, apenas um pouco de turbulência. Agora esperar até as 06:00 para
despachar as malas para Cuba.
Sentados a minha frente um grupo de surfistas com suas
pranchas, algumas pessoas dormindo, outras acordando, um casal de irmãos
brincam com seus iPads. Vou ler um pouco.
Lima, 12h17: Acabei de chegar no Peru e, antes de atingir
meu objetivo final, posso dizer que já valeu a pena. Ao cruzarmos o Brasil,
pude perceber o estrago que estamos fazendo em nossas florestas. Áreas imensas
desmatadas para a produção agrícola e/ou pecuária com partes do território em
processo de desertificação visível.
Devo ter adormecido por um bom tempo, perdi a noção das
horas e quando olhei para fora, neve! Tão próxima que parecia que se eu
esticasse as mãos poderia tocá-la. Ali estava a Cordilheira dos Andes, linda,
imponente, espetacular e assustadora ao mesmo tempo. Foi uma das cenas mais
lindas que já vi. Quando o poeta Manuel de Barros disse que “aquele morro bem
que entorta a bunda da paisagem” ele não estava errado. O contorno das
montanhas é como uma linda mulher a qual é impossível não parar tudo o que se
está fazendo apenas para olhá-la, impossível não se impressionar com sua visão
encantadora. É como o aroma de um perfume raro, que nos deixa inebriados e
felizes.
As nuvens cobrindo tudo, apenas uma ponta de terra, rochas e
neve. De tempos em tempos, podia-se ver a importância da Cordilheira. Lá
embaixo, rios caudalosos correm em meio ao terreno seco, graças ao gelo das
montanhas que derretem e alimentam grandes mananciais como o Amazonas que nasce
nas montanhas e morre 150 km mar adentro no oceano Atlântico.
Chegando em Lima, uma das capitais menos chuvosas do
planeta, é possível identificar a diferença no clima. Banhada pelas águas verde
esmeralda do Pacífico, possui uma espeça nuvem de poeira cobrindo o céu.
No avião, ao meu lado o mesmo senhor com quem vim do Brasil.
É do sindicato dos bancários de São Paulo e está indo a Cuba fazer um curso
sobre sindicalismo.
Tarde do dia 21 de abril em algum lugar sobre a América do
Sul, tomando vinho chileno, ouvindo música clássica e a caminho de Havana, acho
que estou no céu. Ops! Estou mesmo!
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