Hernandez Vivan Eichenberger.
Estudante de filosofia e militante do PSOL/ jarivaway@gmail.com
O artigo de Osmar Silva (ND, 21/4, página 6) levanta alguns questionamentos a respeito da possibilidade de aumento da tarifa em Joinville. Argumenta da necessidade de aumento invocando a contribuição social que as empresas Gidion/ Transtusa trazem à cidade. Para ele, o aumento ajudaria na superação da crise econômica.
No Brasil, 39 milhões de pessoas, segundo o IBGE, não andam de ônibus por não terem dinheiro para pagar. A razão principal disso é a privatização do transporte: quem tem dinheiro, pode utilizá-lo; quem não tem, é obrigado a buscar outros meios.
Via de regra, em todo o Brasil, o transporte é dominado por famílias tradicionais que têm a seu dispor financiamentos estatais para incremento de frota ou mesmo descontos de impostos. Além disso, há uma verdadeira fusão entre o poder econômico e o poder político, o que implica mínimos, quando não nulos, mecanismos de transparência sobre o transporte.
O que a Prefeitura faz hoje, com questionamentos sobre a planilha, pode ser acusado, no máximo, de tímido e não de “questionários desnecessários”. O necessário, em última instância, é inverter a atual lógica de financiamento do transporte.
A tributação de empresários, altos comerciantes (estes dois setores, os mais beneficiados com a mobilidade urbana, seja na modalidade de transporte de força de trabalho, seja como mobilidade para consumo) e sobre a especulação imobiliária é o modelo mais correto de financiamento do transporte, e não a tarifa, cujo aumento só expulsa usuários.
Isso permitiria distribuir renda, transformar o transporte em algo menos injusto e dar um primeiro passo para a inclusão da fração dos 39 milhões de excluídos do transporte que cabe a Joinville.
Quanto a dizer que o aumento de tarifa ajuda a reversão da crise econômica, trata-se de uma falácia: quando, no Brasil, em fevereiro, a média diária de demissões foi de 8 mil, como pensar que excluindo ainda mais os trabalhadores do transporte – agora, em boa parte, trabalhadores desempregados – isso ajudará contra a crise? Em Joinville, já foram 4 mil demitidos.
Qual é a contribuição social de empresas que aumentaram a tarifa 109,2% acima da inflação de 1996 a 2008? Os únicos efeitos sociais disso foram enriquecer a si próprias e diminuir o acesso ao transporte a trabalhadores e estudantes.
É necessário avançar para o fim da exploração privada do transporte, substituindo-o pela intervenção pública, com uma empresa pública e democrática, na qual a voz do cidadão seja ouvida. Osmar Silva diz que “somos, sim, a favor do aumento de passagem”. Nós quem, cara-pálida?
Publicado no Notícias do Dia em 22 de abril de 2009
Nenhum comentário:
Postar um comentário